O que carregas?

Conheces a história do Monge que carregou a mulher às costas?

Diz este conto que um velho monge e um jovem monge caminhavam por uma estrada quando chegaram a um rio que corria veloz. O rio não era nem muito largo nem muito fundo, e os dois estavam prestes a atravessá-lo quando uma bela mulher, que esperava na margem, aproximou-se deles. Ela estava vestida elegantemente, abanava o leque, piscava muito e sorria com olhos muito grandes.

Oh – disse ela –, a corrente é tão forte, a água é tão fria, e a seda do meu quimono estragar-se-á se eu o molhar. Será que me poderiam carregar até o outro lado do rio?

Mulher com quimono

E ela se insinuou sedutora para o monge mais jovem.

O jovem monge não gostou do seu comportamento. Achou que ela merecia uma lição. Além disso, os monges não devem tocar em mulheres. Então ignorou-a e e atravessou o rio. Mas o monge mais velho ergueu a mulher e a carregou às costas até o outro lado do rio. Depois os dois monges continuaram pela estrada.

Embora andassem em silêncio, o monge mais novo estava furioso. Achava que o companheiro tinha cometido um erro ao ceder aos caprichos daquela mulher. E, pior ainda, ao tocá-la tinha desobedecido às regras dos monges. O jovem reclamava mentalmente, enquanto eles caminhavam subindo as montanhas e atravessando os campos. Finalmente, ele não aguentou. Aos gritos, começou a repreender o companheiro por ter atravessado o rio carregando a rapariga. Estava fora de si, com o rosto vermelho de tanta raiva.

Ora, ora –, disse o velho monge. – Ainda carregas aquela mulher? Eu já a pus no chão há uma hora.

E, virando-se, continuou a caminhar.

( in Conto do livro Contos Budistas, de Sherab Chödzin e Alexandra Kohn, ilustrados por Marie Cameron)

Quantas vezes não continuas a carregar aquilo que não te faz mais sentido?

O que continuas a ter na tua casa que te mantém agarrado a um passado que ainda não foi sanado? A situações que aconteceram, a objectos que compraste ou que te foram oferecidos?

A acumulação que se faz na casa externa tem o seu paralelismo na acumulação que se faz nas diferentes gavetas e armários da casa interna.

Um móvel que passa de geração em geração, uma prenda que não tem nada a ver com o teu gosto pessoal, uma compra que fizeste por impulso…uma situação que não gostaste, um insulto que te foi dirigido, um abuso… 

Se não destralhares regularmente, acabas por ir carregando às costas estas tralhas que te vão condicionando o espaço e a vivência diária…

Aquele móvel que tens na sala e foi escolhido por outra pessoa, aquela situação em que alguém te disse algo que não gostaste de ouvir... e apesar de achares que já passou e que está lá bem para trás, na verdade cada vez que passas pelo móvel ou estás perante a eminência de te cruzares com aquela pessoa, algo dentro de ti se agita e perturba.

Até ao dia que a mochila enche e rebenta… simplesmente porque não foste retirando esse peso das costas.

Talvez os armários internos se apresentem mais desafiantes de destralhar, é verdade.

O que te posso dizer é que à medida que vais treinando com o destralhe externo, à medida que vais eliminando objectos da tua casa, energeticamente vais também sendo conduzida a camadas mais profundas de ti mesma e na altura certa, no momento certo, as gavetas internas vão se abrindo e vais vendo o que pede para ser visto e atravessado. Com muito respeito e amorosidade por ti mesma.

Uma mestre de reiki uma vez disse-me para não me preocupar, pois só iria deparar com situações para as quais estava preparada para agir. Acredito, também por experiência própria, que nesta viagem pela casa externa e interna, também tudo chega na hora e no momento certo, nesta grande espiral da Vida.

Sê brutalmente honesta contigo mesma/o… O que é que continuas a carregar às costas que já deveria ter ficado na margem do rio?

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Organizadora Profissional

Sou a Margarida, Doula das Casas, Especialista em Organização de Espaços residenciais e empresariais. A Acredito que ao organizar fora estamos também a organizar dentro; que ao deixarmos ir o que já não serve, estamos a abrir espaço para o novo; que ao respirar e alongar, deixamos que a nossa casa e o nosso corpo se liberte do que bloqueia e que tudo passe a ser mais fluído…