Os dias das Mães

Doula_das_Casas - Mãe e Filha

As Mães

Nestes dias muito se fala e se escreve sobre a necessidade urgente de se quebrarem padrões, de nos libertarmos das correntes patriarcais que continuam a deixar as Mães numa posição vulnerável, com uma responsabilidade acrescidas perante o cuidar dos filhos, da casa, do trabalho, do cansaço das mães, das necessidades familiares garantidas deixando para o fim as suas necessidades pessoais… sejam aquelas que têm com quem dividir tarefas, sejam aquelas que estão sós.

De acordo com a Alexandra Martins, num artigo que escreveu para o Público, com base em dados da Fundação Francisco Manuel dos Santos de 2019, 51% das mulheres afirmam que a sua vida está abaixo ou muito abaixo das expectativas que tinham.

E certamente não porque não têm capacidade de criar, inovar, trabalhar, mas sim porque ficam sem tempo para poderem dedicar-se a si, aos seus projectos, às suas ideias.

Também a Dulce Cruz do @Erva_dulce fez um reels muito pertinente sobre esta temática, que recomendo verem.

Bebé e familia- Doula das Casas

E inevitavelmente fico sempre com uma sensação meio amarga quando leio e vejo estas partilhas tão importantes… sinto que mais uma vez recai sobre a Mulher Mãe dar inicio ao quebrar destes ciclos…

Tem de ser a Mulher a colocar limites, tem de ser a Mulher a pedir ajuda, tem de ser a Mulher…

Para uma Mulher Mãe que está cansada, que já está esgotada, que já está no limiar da sua capacidade física, mental e emocional esta “mensagem que sinto nas entrelinhas” ainda vem carregar mais a sua mochila de peso, de culpa, de sensação de incapacidade pessoal.

Talvez seja só o meu sentir. Será?

Criança e família - Doula das Casas

É como dizer a alguém que está a sofrer de ansiedade “tem calma, tens de ser positivo e olhar para o copo meio cheio”.

Sim, a Mulher tem de aprender a colocar limites... especialmente porque muitas de nós não fomos ensinadas a fazê-lo, pois as nossas mães também não o sabiam fazer, porque as nossas avós também não o conseguiam/podiam fazer…

E acreditem que uma Mãe mesmo que não o saiba fazer, todas estas pedras no caminho vão mostrar-lhe que a aprendizagem tem de acontecer, nem que seja com molho de tomate*.

Um dia tinha uma consulta agendada no hospital do Funchal às 9h00. Nessa manhã a minha filha sentiu de fazer uma birra monumental e vesti-la, dar-lhe o pequeno almoço e levá-la ao colégio foi uma tarefa herculiana que não desejo ao pior dos meus inimigos. Levei-a ao colégio, voltei a casa para deixar o carro na garagem e como o hospital era muito perto da minha casa, fui a pé.

Mesmo assim consegui chegar uns minutos antes da hora. Indicaram-me uma sala de espera e aguardei que chamassem por mim. Esperei, esperei e esperei… Como já passavam um bom tempo da hora, dirigi-me à funcionária e pedi ajuda para ver o que se passava. Fui informada que já não iria acontecer naquele dia, o médico foi embora. Fiquei de boca à banda… “eu cheguei a horas, mas o que aconteceu ?!” ... depois de uns quantos telefonemas para a frente e para trás entre gabinetes, descobri que o médico estava à minha espera lá dentro, eu à espera de ser chamada na sala, e faltou uma Alma avisar que eu já tinha chegado.

Naquele momento, toda a tensão e peso daquela manhã caíram-me em cima e comecei a chorar em frente daquela mulher que ali estava de telefone em punho a dizer-me que teria de remarcar a consulta… Lembro-me de dizer, no meio de lágrimas, que fiz tudo o que me foi humanamente possível para estar ali a horas… e ingenuamente senti o peso da injustiça, o peso de não sentir nenhum tipo de empatia e compaixão e apoio… rebentou a tampa ali naquele momento.

Regressei a casa… esperei mais uns meses pela consulta e pela pequena cirurgia que iria resultar dela.

Computador e Mãe - Doula das Casas

Como é que saímos disto? Gostava muito de ter uma resposta clara, simples e directa mas não tenho.

Da minha experiência pessoal o que faço é aliviar tudo o que posso para poder manter a minha capacidade física, emocional e mental saudável para mim e para a minha filha. 

Isto passa por trabalhar em conexão com a minha casa como uma parte da minha rede de apoio, reduzir/eliminar expectativas da minha vida, organizar a minha agenda de semana a semana, libertar toda a tralha física como ponte para libertar a interna, nutrir-me, não atender telefonemas quando não me apetece, reservar no mínimo 15 minutos diários para meditar, e também relembrar-me todos os dias que a energia da Mãe é uma energia muito masculina e que por isso tenho de nutrir e alimentar a minha energia feminina… e isto muitas vezes passa por colocar uma música e simplesmente deixar-me fluir e dançar no meio da sala…

Funciona? Sim, para mim é o que, por agora, me têm mantido optimista a olhar para o copo meio cheio… e a ajudar a atravessar aqueles dias em que o copo está mesmo meio vazio...

Sonhando com um dia em que os todos Pais vão entender que todo o apoio que prestarem às Mães, estejam ou não a partilhar casa com elas, são extremamente importantes para a Vidas dos seus filhos…

Sonhando que a nossa sociedade/estado vá beber mais das sociedades nórdicas e que os apoios às famílias, sejam elas de que tipo forem, são verdadeiros apoios e não “bolos engana tolos”, e que as Mães passem a ter verdadeiras oportunidades de sonharem, desejarem, criarem, materializem e criarem riqueza, contribuindo para um Todo Saudável.

Talvez um dia, quando voltarmos a respeitar a Grande MÃE, o papel e energia do Feminino... quando entendermos que a capacidade Herculiana de uma Mãe de se recriar, reinventar, trabalhar, materializar é uma Força poderosa que só adiciona Valor ao TODO.

Para que as Mães, especialmente aquelas que não têm com quem dividir tarefas, que têm 2 e 3 empregos para darem comida aos filhos, que têm de pagar a amas para ficarem com eles enquanto têm de cumprir turnos aos fim-de-semana…aquelas que não conseguem dormir à noite com medo de não conseguirem pagar renda no mês seguinte…

Possamos ter as mesmas oportunidades de conseguirmos a vida digna que TODOS merecem.

Sem esmolas, sem vitimizações… com dignidade e respeito.

E pegando e corroborando novamente com as palavras da Alexandra, é nos filhos que encontramos força e energia para continuar, dia após dia.

Não é a maternidade que pesa… o que pesa é mesmo equilibrar todas as bolas neste malabarismo diário numa sociedade que pouco reconhece o lugar de cuidadora.

E não se trata de reduzir papéis, como talvez “alguns” advoguem e sim encontrar soluções para que essa conciliação seja feita de um modo equilibrado e não à custa da saúde das Mães.

(* "nem que seja com molho de tomate" expressão que uso muito e que basicamente significa "nem que a vaca tussa"!! eheh!!)

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Organizadora Profissional

Sou a Margarida, Doula das Casas, Especialista em Organização de Espaços residenciais e empresariais. A Acredito que ao organizar fora estamos também a organizar dentro; que ao deixarmos ir o que já não serve, estamos a abrir espaço para o novo; que ao respirar e alongar, deixamos que a nossa casa e o nosso corpo se liberte do que bloqueia e que tudo passe a ser mais fluído…