Era uma vez um Atelier…

...que habita a casa de uma Artista têxtil.

Uma divisão que, face às vicissitudes da vida, acabou por ficar esquecida. As responsabilidades que se encavalitavam nos ombros desta Artista, ao longo dos últimos anos, foram-na levando por outros caminhos que se mostravam mais urgentes e aquela Voz interior que clamava por meter as mãos nas lãs, nos tecidos, que ansiava por viagens internas de pura descoberta de novas texturas, formas e cores, acabou por ficar bem lá para trás na lista de prioridades.

Aquele Atelier foi, também ele, acabando por acolher outras prioridades. Era o local onde se colocava aquela caixa para arrumar, o local que iria acolher temporariamente aquele saco que segurava roupa que já não servia e iria ser doada. Outras peças foram acabando por ocupar o seu espaço no Atelier porque na casa não existia outro local apropriado para as receber.

O Atelier acabou por se ir transformando no quarto que tudo recebe, que tudo acolhe... que pouco a pouco se vai enchendo de tralha. Tralha essa que foi ofuscando a sua luz, o seu propósito.

É um processo que levou o seu tempo. Pouco a pouco, semana a semana, o espaço do Atelier vai-se transformando no quarto dos arrumos, no quarto da tralha.

No fundo, bem lá no fundo dos sacos que ninguém sabe bem o que têm dentro, ali atrás da bicicleta, que deveria estar na garagem mas por qualquer motivo esquecido, veio também parar ao Atelier, aquela Voz permanece e com o avançar do tempo vai lançando gritos silenciosos na esperança que alguém a oiça.

A Artista continua a caminhar, com tantas responsabilidades encavalitadas sobre os seus ombros, com pouco tempo para si mesma, com pouco tempo para se sentar novamente com a Voz.

A Voz já não aguenta mais, cada vez se sente mais fraca e anseia ser ouvida, ser vista. A Artista começa a sentir um desconforto que inicialmente não consegue identificar. É uma sensação, é um aperto no peito, é uma ânsia de mais e não sabe bem do quê.

Um dia, na correria do dia a dia, a Artista passa pelo Atelier e olha para ele. Fica imóvel à porta e naquele momento tudo pára... segundos de silêncio profundo e a Artista consegue ouvir a Voz.

Sente-a, reconhece-a e aquela sensação, aquela ânsia que a vinha a cutucar faz tempo, dissolve-se e a Voz surge límpida e clara.

Naqueles segundos a Voz ganhou força, renasceu e a Artista deixou cair uma lágrima.

Naqueles segundos o Atelier soube que tinha chegado o momento pelo qual tinha esperado tanto tempo.

Naqueles segundos a Artista percebeu que a sua própria Essência clamava por ela e decidiu resgatar e fazer renascer aquele espaço que habita a sua casa.

Foi ali que percebeu que, apesar de todas as responsabilidades que tem, a maior de todas é a responsabilidade de ser verdadeira consigo mesma.

Com essa responsabilidade vem a necessidade de se re-conectar com a verdade do seu coração, com a verdade da sua Alma... e resgatar as condições externas e internas para se deixar levar novamente pela Voz e simplesmente criar … e abrir-se a para partilhar os seus Dons com o Mundo.

O Atelier ganhou novamente o seu lugar na casa da Artista têxtil.

Na sua casa e no seu Coração.

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Organizadora Profissional

Sou a Margarida, Doula das Casas, Especialista em Organização de Espaços residenciais e empresariais. A Acredito que ao organizar fora estamos também a organizar dentro; que ao deixarmos ir o que já não serve, estamos a abrir espaço para o novo; que ao respirar e alongar, deixamos que a nossa casa e o nosso corpo se liberte do que bloqueia e que tudo passe a ser mais fluído…